[04] Devaneios sobre amizades e a vida adulta
Sobre conexões que não acontecem e as que resistem ao tempo
No ano de 2024, uma das minhas metas era fazer amizades, e, como vocês devem saber, estamos em 2025. Com isso, posso dizer que esse objetivo não foi atingido. Uma coisa que eu pensei que seria mais fácil é, na verdade, uma das mais difíceis. Como fazer amizades sendo um adulto batendo na porta dos 30?
Se alguém tem a resposta, eu iria amar saber. Atualmente, minhas amizades são divididas em dois blocos:
Amizades da internet: São pessoas que eu conheci no falacido Twitter. Todas surgiram da mesma forma: foi formado um grupo para comentar alguma série, e ali ficamos. Em alguns casos, o grupo acabou e seguimos nos comunicando; em outros, o grupo deixou de ser para comentar séries e virou um lugar para falarmos de qualquer coisa.
Muitas dessas pessoas 'conheço' há mais de 7 anos, e elas sabem coisas sobre mim que, às vezes, eu gostaria que não soubessem. Todos esses amigos eu nunca vi na vida, e essa é uma das questões que me deixam mais pensativo: meus amigos continuariam sendo meus amigos se me conhecessem no 'mundo real'? Não que eu seja muito diferente, mas é algo que afeta até minhas amizades que moram na mesma cidade que eu - o que me leva ao segundo bloco.
Amizades do “mundo real”: Dizer isso no plural é muito engraçado, pois atualmente existe apenas uma pessoa (parabéns, Alê, você é guerreira). Nos conhecemos desde o ensino fundamental, e isso já faz mais de 17 anos - isso é tempo para caramba. Os outros amigos? O tempo levou. Vamos deixar assim.
Não me considero introvertido, tanto que meu MBTI é ESFJ, porém conhecer pessoas novas leva um tempo até eu me sentir confortável para ser eu mesmo. Tem ainda o empecilho de eu ser uma pessoa LGBT que mora no interior do Sul do país. Fazer amizades com homens héteros é muito difícil para mim porque, por experiência própria, em algum momento vai sair a coisa mais absurda da boca deles.
Não vou generalizar também, pois já tive amizades com homens héteros que eram legais. Não vou citar aqui o que os tornava legais, porque era apenas o básico de uma amizade. Mas, novamente, a falta de assuntos em comum e a pandemia de 2020 acabaram nos afastando.
Ao longo da minha vida, diversos lugares e circunstâncias me proporcionaram oportunidades de fazer amizades:
Escola: É de onde minha única amizade nessa cidade saiu e, acredite ou não, quando me formei eu saí com mais de uma amizade. Porém, com o tempo, as pessoas mudam e desenvolvemos pensamentos diferentes (principalmente políticos), o que torna o afastamento mais natural.
Universidade: Sou um universitário do período pandêmico, o que significa que não tive contato suficiente com meus colegas para desenvolver amizades. Em um curso de 4 anos, tivemos apenas um semestre e meio presencial. As atividades em grupo eram tão robóticas que ninguém estava realmente disponível para conversar sobre qualquer coisa além das tarefas obrigatórias.
Trabalho: Baseando-me nos ambientes de trabalho presenciais que vivi, nunca faria amizades nesses locais. Desde que comecei a trabalhar remotamente, houve colegas com quem conversávamos - mas apenas para passar o tempo durante o horário de trabalho. Aliás, o dia em que ele pediu demissão foi um dos piores que vivi naquela empresa.
Religião: Serei direto: só gente muito velha, e quem tem minha idade já está com família formada. Quem quer ter família aos 27 anos?
Após escrever esse texto, cheguei a uma conclusão: forçar novas amizades não leva a lugar algum. Acredito que as que tenho agora são mais que suficientes. Poderia apagar essas palavras, pois perderam o sentido para mim - mas escolho deixá-las aqui.